Foto antiga de homem com óculos editado com símbolo do Bitcoin em cada lente, cada uma com um cabo de energia ligado a indústrias poluidoras

Como o Bitcoin Polui? Entenda se a criptomoeda é sustentável

A pergunta da vez: Bitcoin está destruindo o meio ambiente?

Para te contextualizar:

Por volta de maio de 2021, a Tesla, de Elon Musk, decidiu parar de aceitar Bitcoins como pagamento para seus veículos, com a justificativa de preocupação quanto ao aumento da utilização de combustíveis fósseis – devido à mineração, que já vou explicar -, que é responsável pela emissão de gases prejudiciais ao ambiente.

Desde então, a pauta não poderia estar mais quente.

De um lado, muitos ficaram surpresos que o Bitcoin sequer era poluente – afinal, não é tudo digital? -, do outro lado, críticos da criptomoeda aproveitaram para alimentar ainda mais esse receio.

Essa notícia, combinada com diversas outras, fez com que o valor do Bitcoin despencasse. Hoje, as oscilações deram uma estabilizada, mas ainda ficam várias dúvidas:

deveríamos usar Bitcoin? como ele polui? e, o mais importante: existem soluções?

Por que não falavam disso antes?

Antes de mais nada, é importante deixar um ponto muito claro: esse não é um problema novo.

Grandes empresas, governos e usuários da rede do Bitcoin que a estudaram um pouquinho, já sabiam que o sistema tinha um consumo alto de energia.

Inclusive, o próprio Elon Musk sabia disso, e, curiosamente, apoiava o Bitcoin apesar do problema.

Ele concordou – em um tweet – com um estudo indicando que o Bitcoin, na verdade, é chave para construir um futuro com energia limpa – mais sobre isso nos próximos tópicos.

Tweet de Elon Musk em resposta ao CEO de Twitter em sua postagem sobre um artigo que fala sobre o incentivo de bitcoin à energia limpa
 Twitter


 

Ou seja, é uma discussão que já está acontecendo faz tempo e vai muito além do que Elon Musk e outros portais resumem. 

Existem muitos lado dessa história, dados e estudos que não possuem a devida atenção e que pretendo apresentar neste artigo.

Porém, antes de mergulhar nos estudos, você precisa entender por que e como, afinal, o Bitcoin polui. 

Para isso, vamos explicar resumidamente a Blockchain, o sistema por trás do Bitcoin.

Como funciona a Blockchain do Bitcoin?

Blockchain é um sistema que permite rastrear as transações de dados na internet. 

Ele funciona como um banco de dados em uma rede descentralizada. Ou seja, não há nenhuma única instituição, pessoa ou empresa responsável por manter a rede.

Os famosos Blocos que compõe a rede, contém informações sobre cada transação feita e são representados por códigos únicos, calculados com base no código do bloco anterior, o que os torna praticamente imutáveis(mais sobre como funciona a Blockchain aqui).

Para que se chegue a esses códigos, existe um processo chamado mineração. 

Nele são feitos diversos cálculos matemáticos, até que se chegue ao hash que atenda aos requisitos da rede e represente as informações contidas naquele bloco e no código do bloco anterior.

A função hash é um algoritmo para criptografia que transforma dados - como uma transação - em um conjunto alfanumérico, sempre com o mesmo número de caracteres. Por exemplo, a palavra maça, dependendo da função, pode representar: bcd06ce364251e1c 451fae6f9cd26cc8 867cab73932c747 52e6c81fa12d4c6c0

Além disso, na mineração é feita a validação das transações, para ver, por exemplo, se a pessoa A realmente tem 2 Bitcoins para transferir para a pessoa B, evitando o gasto duplo.

Para incentivar os mineradores a realizarem todo esse processo, existe uma recompensa, em Bitcoins, para cada bloco inserido na Blockchain. 

Com os valores altos do Bitcoin, isso torna a mineração uma atividade muito lucrativa e incentiva seu crescimento.

Esse é um resumo sobre como funciona o sistema, mas é claro que tem muitos outros detalhes e informações que não mencionei aqui e que não são cruciais para seguir a discussão sobre a poluição do sistema. 

O que você precisa focar agora é na mineração.

Afinal, como funciona a poluição do Bitcoin

Os cálculos matemáticos que mencionais são muito difíceis de executar.

E é ai que está o grande problema:

Para fazer os cálculos, mineradores – que podem ser qualquer pessoa -, precisam “emprestar” poder computacional para rede.

Exatamente por ser difícil minerar esses blocos, o poder computacional exigido é proporcionalmente grande. 

E, como todos sabemos, as máquinas precisam de eletricidade para executar suas tarefas, consumindo mais ou menos conforme o uso.

Como os cálculos são cada vez mais complicados, é preciso de computadores mais potentes. E não apenas um, mas vários. 

Existem empresas gigantes de mineração, que combinam diversas máquinas com o único propósito de minerar Bitcoins.

A eletricidade utilizada para alimentar essas máquinas é gerada por energia e, voilà, o Bitcoin consome energia, que muitas vezes não vem de fontes limpas, mas sim dos famosos combustíveis fósseis, que, por sua vez, emitem gases que colaboram para o efeito estufa.

O quão prejudicial é esse uso de energia?

Antes de mais nada, é importante deixar clara a diferença entre eletricidade e energia. 

Eletricidade é uma forma de energia, mas não toda a energia.

Quando fazemos comparações do tipo: “Bitcoin consome mais energia em uma transação do que uma casa inteira em uma semana”, temos que tomar muito cuidado.

Em uma casa, além de eletricidade utilizada em aparelhos elétricos, temos a gasolina dos carros, o gás do fogão e talvez outras formas de energia sendo utilizadas, que não a eletricidade.

Dito isso, podemos seguir em paz…

Estima-se que o Bitcoin use entre 100 e 140 TWh de eletricidade, o que é realmente bastante, mais do que o consumo de alguns países até, como a Argentina.

Gráfico de consumo de eletricidade, comparando países e o Bitcoin

 

Índice do consumo de eletricidade do Bitcoin da Universidade de Cambridge | Divulgação: BBC

Mas temos que considerar 2 pontos aqui:

1. O Bitcoin não é um país, governo ou companhia aérea

Ele é uma criptomoeda que pode ser utilizada no mundo inteiro, ou seja, é natural que consuma bastante energia, assim como todo sistema útil no mundo.

E quando fazemos uma comparação mais justa entre o Bitcoin e sistemas bancários ou a indústria do ouro, temos um cenário bem diferente, onde o Bitcoin consome até duas vezes menos energia do que esses outros setores que pode substituir.

É claro que devemos considerar que a criptomoeda ainda não tem a mesma escala que esses sistemas, porém, mesmo assim, é um ponto importante.

Gráfico de comparativo do consumo de energia entre Bitcoin Ouro e Sistemas Bancários

 

Fonte: Galaxy Digital | Divulgação: Yahoo Finance

2. Uso de eletricidade NÃO é algo ruim

Pelo contrário. A eletrificação dos aparelhos e qualquer atividade que consome energia é uma das grandes apostas para a redução das emissões de carbono.

Isso porque a rede elétrica que é utilizada pelos computadores e outros dispositivos eletrônicos pode ser gerada de fontes de energia limpas, como eólica e solar.

A tendência é que essa geração seja cada vez mais limpa com os investimentos sendo feitos na área, e na medida que essas fontes fiquem mais baratas no mercado – e já estão, em alguns casos, mais baratas que as convencionais.

Ainda precisamos ter avanços nessa frente, especialmente no local onde maior parte da mineração é feita: China

O país ainda depende de muitas fontes de energia não limpas para gerar eletricidade.

Porém, com a regulamentações maiores por lá, mineradores já estão migrando para outros países. 

E eles tem como preferência, em muitos casos, os que usam muita energia limpa, exatamente por ser mais barata.

MESMO assim, o Bitcoin não está tão mal assim quanto dizem por aí. 

 

Um estudo publicado pela Universidade de Cambridge, indicou que 39% da mineração de sistemas "Proof of Work", como o Bitcoin, consome de fontes de energia renováveis.

Percentual de energias renováveis como parte do mix de energia para mineração

Universidade de Cambridge | 3rd Global Cryptoasset Benchmarking Study | Divulgação: News Bitcoin

Colocando em perspectiva o uso de eletricidade do Bitcoin

Quando colocamos tudo em perspectiva, fica ainda mais claro que o alarme e até desespero de alguns sobre o consumo de energia do Bitcoin é quase injustificável:

Dos 25.000 TWh gerados de eletricidade, apenas aproximadamente 0.5% foi destinado ao Bitcoin em 2020, o que é bem pouco representativo.

Mix de produção de eletricidade ao longo dos anos, até 2020

Our World in Data

Não só isso, mas do total de emissões de gases do efeito estufa, a eletricidade representa uma parte, não tudo. 

Logo, a emissão do Bitcoin é uma parte – muito pequena – de outra parte maior nas emissões.

Definitivamente, temos outros problemas maiores para focar, e eliminar o Bitcoin não vai salvar nosso planeta, nem perto disso.

Gráfico empilhado da evolução da emissão de carbono mundial por setor

Our World in Data

É claro que, na situação crítica em que estamos, esse pouco de emissão adicional faz diferença. 

Como eu disse, não é pouco, mas também não é tanto quanto dizem por aí.

Como lidar com o problema?

O Bitcoin tem um problema com emissão de carbono e o primeiro passo é reconhecer isso. O segundo passo é entender se vale a pena manter o sistema. E vale!

Ele alcançou valores altíssimos e não é a toa. A sua capacidade de combinar segurança, descentralização e eficiência estão ajudando milhões de pessoas pelo mundo a terem acesso a uma criptomoeda que pode ajudar a preservar seu patrimônios, especialmente em países com dificuldades. El Salvador ter começado a aceitar Bitcoins como moeda oficial do país é prova disso.

Ainda assim, temos um problema, como resolver?

E se eu te disser que, na verdade, o Bitcoin é a chave para reduzirmos a pegada de carbono no mundo?

Existem estudos bem completos sobre a combinação da mineração de Bitcoin com distribuidoras de energia limpa. 

Resumidamente, nós temos um problema com a geração de energia elétrica de fontes de energia solar e eólica. 

O que acontece é que a geração é intermitente – não contínua – exatamente por dependerem tanto do clima/horário do dia. 

Isso resulta na distribuição irregular e não muito assertiva: quando há muita demanda por energia, as geradoras não têm suficiente e quando há pouca, elas tem muito.

Uma das soluções para esse problema é o armazenamento da energia em baterias de íons de lítio, para serem utilizadas quando a pessoa precisar. Porém, ainda precisamos de avanços nas baterias e existem outras alternativas que podem ser combinadas a elas.

Uma delas é o direcionamento dessa energia em “excesso” para mineradoras, tornando as geradoras de energia limpa mais rentáveis, o que pode ser repassado nos preços, permitindo a expansão dessas fontes.

Ou seja, o Bitcoin pode ser um incentivo para que novas iniciativas desse tipo apareçam, tronando o setor mais atrativo e contribuindo para a aceleração em direção a um mundo mais sustentável.

A transição para energia limpa, somada à possibilidade que o Bitcoin abre para incentivar esse tipo de energia de forma mais eficaz e rentável, são fortes indicativos que podem garantir seu futuro.

Acho importante deixar aberto o debate sobre o tema, especialmente esse que é bem polêmico. Mas, claramente, é muito mais complexo do que muitos portais de notícia e bilionários dizem por aí…

Aproveite para visitar nosso artigo sobre os meios de transporte do futuro e as tendências da mobilidade urbana!

Últimos Posts

Categorias e Autor